quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Possessão Passiva

Já ouviu?
Foi no dia que eu peguei o Birty. Birty é um passarinho desses de parque mesmo, que ficam por ai sujando os bancos de concreto e não tem rumo e nem ninho. Eu sabia que eles andavam em bando, mas o Birty tinha uma coisa, não sei que coisa, que eu fiquei olhando, fiquei olhando pra ver se eu descobria que coisa era. Levei pra casa.
Eu pensei que talvez o Birty sumiria, eu sabia que ele gostava da vida de praça, mas eu decidi correr o risco. Fiz um canteirinho pra ele não se sentir tão preso, sabendo que eu não queria mantê-lo tão solto.
Porque possessão? Porque eu contrariei. Eu não quis visitar o parque nos sábados pra ver o Birty, ele agora era meu! Fui eu que fiz um canteiro e não haveria mais ninguém pra não descobrir o que ele tinha de diferente.
Porque passiva? Eu não o prendi em uma gaiola. Eu não quis que ele bebesse água se antes bebia vinho. Eu não quis tirar o cheiro de clorofila do Birty.
Eu acordo e penso nele, trato dele, trato da casinha dele. Hoje ele gosta que eu visite o seu cantinho e passe algumas horas ouvindo seu barulho, e eu ainda gosto de olhar pra ele e ainda tentar descobrir o que ele tem que me fez tirá-lo dos bancos de concreto. Mas tem dia de manhã que passa uns passarinhos parecidos com o Birty aqui na rua de casa, e ele canta tanto, que eu penso que ele tem saudade de ser sem rumo e sem ninho. Mas eu sou possessiva, eu vou pro seu cantinho e assovio pra ver se ele esquece que ouviu canto de pássaro, pra ver se ele acha que o meu canto é único e suficiente.
Eu tenho medo de ele um dia ficar sufocado e querer escapar por entre as gretas do canteirinho de madeira. Eu já me prometi deixa-lo gostar de outros barulhos, e já pensei até em aumentar o espaço das madeiras, mas sempre que eu ouço o Birty bater as asas e cantar alto, eu acabo assoviando.

(pra quem sabe um pingo, ler é letra)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Você faz com que eu me assuste

Convivo bem com a idéia de que as coisas se findam e que quase sempre se substituem. Não seria diferente com você. Mas quando eu sinto que seus olhos estão menores que o de costume, eu chego a pedir a Deus para te conservar daquele jeito durante uns 2 ou 50 anos. Eu chego a ter medo de você deixar de me ligar por mais de duas semanas, medo de você amar outra que não eu, e mais medo de te ver rindo e bem, e sem mim.
Eu sei que você não é o último do mundo, mas bem que podia ser o meu último. Posso te imaginar daqui uns 10 anos colocando a churrasqueira no quintal e rindo da minha peruagem de comprar um abajur de zebra para a sala de visitas.. Daqui uns 22 anos sentado na varanda às 2 da manhã, tomando uma cerveja e comendo peixe frito e falando da vizinha que foi pega na cama com o encanador, e aí então a gente ia rir da vida alheia, você ia dar dois tapinhas na minha perna, dar aquele sorriso que você já tem e me chamar pra dormir.
Pode ser que na próxima sexta eu esteja ligando para uma amiga solteira e a chamando para ir numa festa que tem casais de no máximo 1 hora. Mas se até na quinta-feira eu tiver você, até a quinta eu vou te imaginar comigo, barrigudo, bem-humorado e amante.
Às vezes pesa me ver tão declarada, e mesmo sabendo que eu consigo sem você, eu não quero precisar conseguir. Eu quero continuar parecendo uma mulher que vê um futuro grandioso em ‘qualquer’ homem que conhece. Eu não vou me matar se daqui uns meses eu ter que te chamar de ex, até porque, são processos de seleção natural e nada que alguns porres e algumas semanas não resolvam. Mas é tão bom te imaginar preto e lindo e sem camisa abrindo a geladeira, e saindo do banho com cheiro de dove...
Merda! Eu estou tão sua...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

nenhum inteiro, nem um.

Descobri que nem toda personalidade forte é tão forte quanto acha. Eu, que já me senti mais que rocha, tenho tudo aqui em mil pedaços. Tenho as mãos e o coração frio, mas, todo mundo que já sofreu um pouco há de confessar que não há coração assim por inteiro. Choro constantemente, e isso me deixa menos árida. Abraço também, e isso me faz menos rude. Por mais que eu não me sinta uma donzela ou uma garota-porcelana, eu tenho muito dessas que pedem colo sem pedir. Sinto falta de amigos que não deveriam ser menos amigos agora, me identifico com algumas frases de amor, sinto vontade de sumir e às vezes quero a vida mais leve. Não existe isso de fortaleza plena, todo mundo tem algum osso meio quebrado e uma hora em que o coração pede pra parar. Aliás, eu tive que ser muito frágil e muito forte para reconhecer: eu sou uma contradição.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

oi, prazer.

Espero que a primeira impressão não seja a que fique, não costumo ser muito aparentável; é o que dizem. Então, que eu consiga conservar quem me suporta.
Quase não me agüento quando começa um sambinha desses de nêgo velho. Também gosto de beira de rio pra beber limão com sal. Meu pai me ensinou que ter um cumpade na vida vale mais do que um parceiro de negócios.
A ansiedade às vezes me obriga a querer todas as bolachas recheadas da Nestlé, e eu quero me matar quando a ansiedade passa mas já não dá pra voltar todas as bolachas pro pacote.
Se eu resolver te amar um dia, eu passo fome e frio por isso. Já me decepcionei muito por estar pronta pra quebrar um braço por alguém; talvez por isso, hoje, a pessoa que mais tem que me corresponder possui o meu sobrenome, meu próprio sangue e carne. Ainda assim, quebro a cara do sujeito se ele pensar em quebrar a sua (se eu resolver te amar um dia).
Meu filho vai chegar com o dedo machucado depois de um jogo no campinho, minha filha vai me contar que ganhou um lanche do menino do boné azul no recreio e o meu marido vai querer beber uma cerveja com o meu pai no domingo a tarde. Eu vou ter uma mesa de madeira grande na varanda e o emprego dos meus sonhos. Eu sei que vai ser quase assim, porque eu costumo conseguir o que eu quero.
Gosto de expressões e curvas de rosto, é bom saber que eu dou um valor enorme em coisas aparentemente irrelevantes. Detalhes são essenciais.
Juro que se apaixonar sempre pelas mesmas coisas é muito mais paralisante. É como se a mesma torta de chocolate tivesse sabor de morango um dia, noutro de limão, mas que continuasse sendo a minha torta de chocolate favorita. Sou intensa, e não obedeço tantas regras e nem regulo o meu tanto, me apaixono mesmo, e não é pouco.

domingo, 16 de maio de 2010

Ele não sabe o que é melhor pra Luzia.

Luzia me disse: “Ele não sabe o que é melhor pra mim” e aí eu quis saber da história toda.
Eu sabia que Luzia me contava a história mexendo as mãos como se fosse a Doutora Senhora F.S. Coisa e Tal, mas que ela era uma coitada que um dia ouviu falar de amor e quis saber o que era. (Chegou ao ponto de se trancar no quarto pra sentir sozinha o peito pesando, logo ela que já havia vivido coisa que até santo desconfia.).
Luzia me contou que quando ela se sentia forte o bastante, ele a fazia mudar de ideia. E como ela não gostava de ser contrariada, nessa parte da conversa, falava dele com a boca cheia de todos os chingamentos que eu demorei anos pra decorar.
Quando eu a perguntei o que mais a incomodava, respondeu:
“O que me incomoda é que quando eu era bebê, eu só precisava chorar para comer;
Quando eu ia à praça, era só apertar a mão da minha mãe para ir ao pula-pula;
Quando eu queria um brinco de pena, eu dizia que gostava de coisa hippie e todo mundo entendia. Quando eu levantava a sobrancelha esquerda mais pro canto, amiga minha sabia que o mocinho Senhor Coisa e Tal estava atravessando a rua. Quando eu estralava os dedos, quando eu apertava os olhos, quando eu fazia comentários superficiais, quando eu fazia perguntas aparentemente inúteis... um ou outro sempre conseguia flagrar alguma intenção. E o que realmente me incomoda é que o desgraçado não entende nenhum sinal meu! Não dá pra notar ou eu tenho mesmo que ligar e dizer: ‘Ei, dá pra você vir aqui resolver o meu problema?’”
Luzia pediu licença, e foi tomar uma asprina.
Aspirina não cura Luzia, aspirina não cura.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Nem um curioso, nem Newton

Juro que não é cansaço, mas é que quando o filme passa por mais de duas vezes, a primeira cena não é mais tão impactante.
Juro que não é tristeza, até uma notícia do jornal do meio-dia te deixa com o coração entre tábuas.
Juro que não é desespero, nem quero atropelar os bois, mas é que quando se ganha um ovo de páscoa, não dá pra abri-lo só no natal.
Juro que não é raiva, mas se você já emprestou o bonequinho do Power Rangers pro seu vizinho, e ele voltou sem uma perna, você não iria emprestá-lo tão fácil pro mesmo assassino-mirim.
Juro que não é auto-decepção, até quando te deixaram no banco de reserva na oitava série, você teve que sentar se sentindo incapaz.
Também não deve ser saudade, eu não ando tendo muito tempo pra chorar pelo copo de pinga quebrado.
E eu nem vou ficar pagando uma de entendida...
O fato é que as vezes me dá umas oscilações psicológicas (eu não me atreveria a dizer emocionais) mas diferente desses físicos e fofoqueiros que sempre inventam coisas e raramente explicam, eu não sei bem que sensações são essas mas sei muito bem o porquê delas estarem aqui.

domingo, 2 de maio de 2010

O amuleto que eu fiz

Eu fiz um amuleto, desses de guardar em cordinha de pescoço e que te faz lembrar presentinhos de gente que baba quando pensa em outra gente. Quando eu tenho raiva do que esse amuleto me lembra, dá vontade de jogá-lo na parede branca do meu quarto, mas eu o guardo no bolso como quem não vê a hora de pendurá-lo novamente. Quando eu o tiro do bolso, eu o seguro bem forte pro cheiro nunca mais escapar e é nessa hora que eu mais gosto do amuleto.
Se não fosse feito por mim, ele me seria entregue da seguinte forma: alguém o seguraria com as duas mãos e me diria “Toma; pra você”, só isso.
Mas ninguém me deu, eu o fiz e até nome ele tem. Quando eu quero esquecer o amuleto, eu o escondo em uma gaveta de guardar papel. Só que do mesmo jeito que alguém quando esconde 50 reais ou chiclete no guarda-roupa nunca esquece de verdade que guardou, eu-criador não consigo esquecer radicalmente meu amuleto-criatura. Eu deito pra dormir, coloco a mão no meu pescoço e penso “O amuleto não existe mais” mas quando eu fecho o olho eu não evito de mudar o raciocínio: “Ele tá ali, só esperando o ‘algo ou alguém’ falar que ele fica melhor perto do meu queixo”. E essa é a segunda hora que eu mais gosto do amuleto, eu me imagino abrindo a gaveta e ouvindo ele me pedir pra nunca mais guardá-lo.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Ocupando o volume do recipiente

Essa coisa de ‘eterno’ nem me agrada muito;
eu me sinto plagiando Shakespeare ou Vinícius de Moraes.
‘Fim de sabadão’ também;
eu me sinto uma abstinente na micareta ou apelativa num baile funk
Mas
Eu tenho um ‘q’ de literal
e eu até que sou bem chegada num ‘arroxé’ e num Mc Ão.
A gente se adequa de acordo com o humor,
ou de acordo com a ocasião.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

E por que não?

Cadê gente que não liga pra pés no chão?
Que diabos há em se descruzar os braços e ver até quando o vento pode movimentá-los?
Que raio de pressuposto que as coisas só dão certo com gente certa!
Quem disse que eu não posso ser eu mesma e me sentir outra pessoa ao mesmo tempo?
E se eu quiser ser livre sem ter que ser de todo mundo?
Vamos deixar dessas coisas todas,
chega mais perto que a gente sabe o que faz.

sábado, 10 de abril de 2010

Nessa rua tem um bosque que se chama solidão

Se as escolhas se as escolhas fossem minhas,
Eu mandava eu mandava te buscar
Desse jeito desse jeito meio torto,
Só pra ouvir só pra ouvir você assobiar
Que aperto que aperto na garganta
Que me dá que me dá só de lembrar
De você entrando você entrando pelo portão
Estralando os dedos com o short velho de pescar.

‘Aqueles cinco minutos de colo pra ouvir cantigas fizeram de mim poetinha fingida.
Abriria mão de falar de amores se eu tivesse cinco minutos durante toda a vida no colo seu. ’

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Tchau e bença

(Primeiramente, que fique claro: muitos dos meus rabiscos são oriundos de coisas que me fizeram cerrar os dentes por revolta...
Mas há quem concorde que, em momentos assim, quando não se pode procurar certa gentinha e enfiar-lhe o dedo na fuça, o que resta é tentar falar alguma coisa pra desentortar a sobrancelha, então, eu escrevo.)
Paciência é virtude mas se for pra aceitar certas mesquinharias, eu sou uma pessoa desprovida de qualidades morais. Sempre tem um membro de manada que acha que encontrou vida produtiva pra meter a napa. Tenha dó... Haja tal santa virtude!
Amores meus, eu não necessito de palpiteiros e nem contadores de piadas. Se eu precisar de alguém para dizer se eu devo usar moletom ou mini-saia, se eu devo ser estúpida ou delicada, eu sei a quem recorrer.
Pena que às vezes eu tenho que engolir a seco alguns, que vontade eu tenho de mandar todos irem a merda, e que feliz seria eu se todos, deveras, caçassem seu rumo pra lá!

Eu-blocodeconcreto

Esses 17 anos me impuseram que é menos doloroso ser esse bloco de concreto. Ser sempre um abrigo pra esse mundão e quando eu não mais agüentar, apelar pra essa almofada velha em cima da cama que não suja de poeira, suja de maquiagem.

Eu não tenho telefones de psicólogos mas se existisse um disk-anônimo, eu talvez nem usasse mais papel pra falar que meu peito quer estourar.

Eu queria mesmo é ter parque pra ver ipês e uma companhia que não usasse coleiras. Ou ouvir aquela música escondida com medo de parecer barangamente apaixonada mas sorrir de boba no refrão mesmo assim.

Ninguém nunca me abandonou e eu nunca fugi de casa por trauma de adolescência, mas eu acostumei falar dessa coisa de suspiros como se eu não pudesse dar muita importância.

Pois olhe, como pode eu aqui com essas melancolias de quinta? Eu tenho pouco tempo pra ser frágil em exagero, eu fui programada para suportar bofetadas.

Eu consigo fazer o tempo passar mais devagar pra sentir cheiro, pra diferenciar sons de rua, pra ver criança correr atrás de bola em avenida principal. Eu decoro olhos e curvas de boca.

Esses 17 anos me presentearam com um bocado de coisas que gente de 40 não sabe o que é, mas pra eu saber disso eu precisei, várias vezes, ter que me sentir menos gente e mais bloco de concreto.

quarta-feira, 31 de março de 2010

O consultório

Cheguei à conclusão que esses consultórios nada mais são do que uma escala maior de espaço e tempo de um elevador. Pois tudo o que há são conversas de tempo e de campeonato brasileiro.

Hoje eu fui a um desses elevadores gigantes e a minha segunda conclusão foi que se eu visitasse aquele lugar uma vez por semana, em um mês eu escreveria um livro de contos.

Teve aposentada estranha que só saía de casa quando chovia pra chegar com a barra da calça encharcada, teve vovô surdo que não entendia que era pra levantar da cadeira, teve vovó que sentou do meu lado e quase me perguntou a cor do meu esmalte e o que era aquele negócio que eu carregava nas mãos que tinha tecla e acendia às vezes, teve criança birrenta que respondia gente grande já sabendo que um dia seria uma, teve perua que descobria a vida dos outros em dois minutos, teve gay, teve conhecida que não parou de olhar meu short curto (até então comportado) e teve encontro de gente podre e rica que fingia ter saudade de um outro rico só pra perguntar no fim se ele tinha comprado aquela mansão no final da rua.

Se não bastasse, eu ainda li todas as “Época” e “Exame” até eu me sentir nerd o suficiente e aí parar de ler. Ainda tive tempo pra pensar no que a secretária pensava ao falar com o carinha da tatuagem e como ela seria um monstro ao chegar em casa, já que lá devia ser o único lugar que ela não precisaria dar bom dia com cara de quem nunca sentiu dor de barriga na vida.

Tirando a parte que o doutorzinho atrasou a minha consulta em uma hora, o tempo no consultório me fez sentir mais leve... Eu tive tempo de olhar as pessoas e não somente passar por elas.

Falando em pessoas, eu não poderia deixar de comentar daquela que me fez elevar o sorriso pra direita. Foi uma das conversas mais espontâneas daquela sala fria:

- Lá na sua floricultura tem uma orquídea estupenda?

- Tem sim, dá uma passadinha lá...

- É pra minha mulher...

- Ah sim

- Ela não merece não, mas hoje eu lembrei de como ela gosta das orquídeas; ela chega cansada em casa e ela vai gostar de abrir a porta e ver uma.

sexta-feira, 26 de março de 2010

- Porque você insistiu em uma história tão sem nexo?

Essa é uma história de um rapaz que conhece uma moça, mas, você tem que saber de antemão que essa não é uma história de amor.

Os dois não foram feitos um para o outro e daqui uns meses eles não dirão que já conheceram a metade da laranja, eles só se olharam um dia e gostaram do que viram.

Ele a quis como quis tantas outras. Ela não.

Ela sempre aceitou os de focinho e gosto dentro de um padrão pré-determinado (mas que menina burra e previsível!), até que um dia ela decidiu dar ouvidos a alguma coisa que não fosse alguma pessoa.

Essa coisa de paixão nunca lhe agradou muito, aliás, minto, nunca lhe foi muito lucrativo. Por auto-imposição ou não, ela nem se apaixonou, o que não quer dizer que ela não tenha começado.

Mas como toda história, que não é de amor, acaba, essa também.

Ela só não quis descartar, que dirá esquecer. Sabe-se lá por que.



‘- Porque você insistiu em uma história tão sem nexo?

- Porque ele nunca me foi confiável, correspondeu às minhas expectativas (e isso não quer dizer que foram boas), e porque sempre ouve uma coisa nisso tudo que me dizia: ‘Larga de bobeira, que mal há? Abrace esse menino como se fosse seu mundo..como se aqueles olhos fossem mar: não deixa de ser um mistério e talvez por isso seja tão paralisante’. Eu só quis ouvir isso até o meu coração querer ficar surdo. E porque quando ele me olhava ao mesmo tempo em que bagunçava o cabelo, eu achava que talvez valesse a pena me decepcionar por aquele menino cor de jambo.

quarta-feira, 24 de março de 2010

E talvez eu possa mesmo escolher

Eu abri a janela hoje cedo pra ver se algo lá fora falasse pro meu coração ficar mais lento. É porque eu tinha algo pra fugir de tudo, mas agora, eu to precisando fugir principalmente desse algo.

Eu vejo gente feia, gente sem dente, gente que ainda nem sabe que é gente e gente que esqueceu como é isso andando por aí e eu penso que talvez não seja só eu que queira tanta coisa.

Eu queria escolher o padrinho do meu filho caçula, a amiga do chá das cinco; o ‘cumpade’ que leva cerveja pra jogar truco na quinta à noite; a vizinha que sempre faz festa pros sobrinhos e me leva brigadeiro no outro dia; o outro vizinho que vai lavar o carro sem camisa; aquela pra me ligar às 3h da manhã pra falar que viu na tv um ‘anel-minha-cara’ mas que ele custa 5x mais do que eu posso pagar; um vovô que passe todo dia em frente a minha casa e me chame de Patrícia misteriosamente. Eu queria escolher alguém que não precisasse dizer ‘eu te amo’ sempre pra parecer apaixonado, mas que me falasse que eu fiquei horrorosa só pra não confessar que meu vestido vermelho tá curto demais.

Já achei que eu tivesse encontrado muita gente dessas, já conheci gente e sorri por pensar “esse vai ser o vizinho” ou “essa vai ser a perua que vai me roubar os batons”, já foram embora muitos, mas eu ainda tenho muitas janelas pra abrir até eu conhecer todos os outros.

Eu não sigo regras pra as coisas acontecerem, eu prefiro que os dias vão me mostrando como que tudo isso acontece; mas é claro que quando eu tenho um tempo pra pensar bobeira, eu sempre penso em quantos sorrisos diferentes vai ter o carinha que vai deixar um chocolate do lado do travesseiro com um papel cortado à mão escrito: “o que te engorda, te mata mas você ta precisando engordar uns dois quilinhos ;)”.

Eu to precisando pensar nessas coisas sem pé e nem cabeça, costuma funcionar quando eu preciso fugir.

domingo, 21 de março de 2010

Achei ridículo

Continuo achando.

Nesse jogo todo, meu amor, quem ganha mesmo não é quem leva o troféu pra colocar na estante. Eu ganhei muito mais entendendo como o jogo funciona.

Eu torço pra você ter um dia pra chorar por entender como a vida é. Deve ser lamentável ser levada sem saber o motivo e nem por quem. Eu só não sei até quando você vai se contentar em ser coadjuvante e fazer parte de uma maré.

Eu não preciso de contato e muito menos de consideração, ainda bem. A idéia de (certas) convivências me dá ânsia de vômito.

E ah, já que você quer tanto,

que você se auto-destrua!

sexta-feira, 19 de março de 2010

Menos uma escrivaninha

Você me faz querer quebrar os móveis e os dentes.

E eu não suporto a idéia de me ver tão sua.

Mas a cada dia que passa, eu te entrego cada pedacinho de pele minha sem você saber.

Eu quero teus ombros, olhos e nuca (porque sacanagem faz parte).

Quero momentos muito mais nossos do que de manequins, mesmo porque, é neles que eu te vejo tão meu, e é bom que você também quebre alguns móveis.

terça-feira, 16 de março de 2010

Ser mistério e achar as coisas menos complexas

Eu não sou a mesma todos os dias, bendito seja.
Desconsolada é pra viúva. Depressiva é pra desocupada. Solitária é pra anti-social. Reflexiva é pra santa arrependida. Eu apenas ‘invento’ histórias, já faz tempo.
Tem dias que eu acordo pensando no dia; no sábado, na noite.
Eu precisava de madrugadas das quais eu risse quando acordar, sem precisar me sentir ridícula por isso.
Queria poder chorar sempre sem esses nós no peito. Se não fosse possível, que isso acontecesse às vezes.
Eu tenho um sério problema, eu queria ser mais racional. Eu queria conformar com certos baques, sem precisar ver o dia passar mais lento.
Eu não quero trilhar o caminho mais fácil, não mesmo. E caso eu vá pelo pior, que eu tenha alguém comigo pra não achar que cada esquina é o fim.
Eu cansei de pedir olhos nos olhos, então, que seja o que Deus quiser. Mas que Ele descubra o que o meu peito pede quando ele parecer estourar. Eu só preciso confiar nisso.
Eu quero ser mistério e achar as coisas menos complexas. É mais fácil assim.
Afinal, a partir de qual 365 que algo aqui vai mudar?

sábado, 13 de março de 2010

Meu menino,

Eu te juro que eu te quero tanto as vezes que me dá vontade de ir onde você estiver pra ver se os seus ossos estralam com um abraço meu.

Eu te juro que eu te odeio tanto as vezes que me dá vontade de esquecer o seu nome e trocar por ‘desgraçado’, pra ficar repetindo enquanto meus dedos da mão se fecham.

Eu não tenho o controle do tempo, eu até que queria, não sei até onde vão esses segundos que eu tenho que parar e respirar forte pra descarregar tanta coisa,

então,

meu menino,

deixe dessa manha toda.

Tenho preguiça

Tô sem paciência pra esses peitos empinados e andar de quem já errou muito na vida mas adora ser coitada.

Tô sem paciência pra nariz metido a superior e que, na verdade, cheira esterco.

Tô sem paciência pra gente colecionando anos mas que insiste naquelas coisas da minha quinta série.

Tô sem paciência pra convivência forçada,

‘Não sei fazer jogo social. Até saberia, mas não me interessa. ’

Não me interessa saber da sua vida, eu tenho a minha, e ela deveria não te interessar também. Se eu quebrar o braço ou quebrar a cara, quem vai sentir a dor sou eu. E eu sei como lidar com isso, já quebrei outras vezes.

Tem muita coisa acontecendo fora dessas quatro paredes; tem gente que resolve os problemas de umbigo e tem gente que me dá preguiça. São esses que enchem meu sapato de pedra.

Se você quer comprar um carro, pular de um prédio ou queimar a língua de tanto mal-dizer, que faça! Só não me inclua nas suas futilidades, tô sem paciência.

Eu tenho dó, mas eu até que entendo, a grama do vizinho é sempre mais verdinha, não é mesmo?

Eu e minhas peças

Porque quando o meu ‘eu’ despedaça eu não sei em qual parte eu me apego.
Mesmo porque eu sou um amontoado das pessoas que vivem cá, e quando uma delas se vai, eu sofro como se fossem dois amontoados.
Eu não sou inteira, eu sou fragmento.
E como tudo que há é jogo...
Como num dominó, se uma peça desmorona, acaba a brincadeira.