segunda-feira, 5 de abril de 2010

Eu-blocodeconcreto

Esses 17 anos me impuseram que é menos doloroso ser esse bloco de concreto. Ser sempre um abrigo pra esse mundão e quando eu não mais agüentar, apelar pra essa almofada velha em cima da cama que não suja de poeira, suja de maquiagem.

Eu não tenho telefones de psicólogos mas se existisse um disk-anônimo, eu talvez nem usasse mais papel pra falar que meu peito quer estourar.

Eu queria mesmo é ter parque pra ver ipês e uma companhia que não usasse coleiras. Ou ouvir aquela música escondida com medo de parecer barangamente apaixonada mas sorrir de boba no refrão mesmo assim.

Ninguém nunca me abandonou e eu nunca fugi de casa por trauma de adolescência, mas eu acostumei falar dessa coisa de suspiros como se eu não pudesse dar muita importância.

Pois olhe, como pode eu aqui com essas melancolias de quinta? Eu tenho pouco tempo pra ser frágil em exagero, eu fui programada para suportar bofetadas.

Eu consigo fazer o tempo passar mais devagar pra sentir cheiro, pra diferenciar sons de rua, pra ver criança correr atrás de bola em avenida principal. Eu decoro olhos e curvas de boca.

Esses 17 anos me presentearam com um bocado de coisas que gente de 40 não sabe o que é, mas pra eu saber disso eu precisei, várias vezes, ter que me sentir menos gente e mais bloco de concreto.

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